segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Nós e os outros


É a sofreguidão com que se devora o objecto desejado
que desmascara a devassa que nos distingue.
A força com que nos agarramos ao prazer,
a forma como lhe sugamos cada momento, cada detalhe.
Os olhos não mentem, os gestos ainda menos.
Revelamos o que somos e o que oferecemos,
pela forma como nos atiramos ao que cobiçamos.
Impetuosos, insaciáveis, vorazes, gulosos, pecaminosos, promíscuos,
todos incapazes de disfarçar o que nos move sempre que o desejo se intromete,
sempre que o prazer da carne nos surge pela frente.
Não há manual de boas práticas, códigos de conduta ou etiqueta aconselhável
para aqueles que não vivem sem prazer.
Os outros, esses outros, chegam com cautelas,
 com prós e contras devidamente pesados,
 com vantagens e desvantagens ponderadas.
Não engolem temendo indigestões,
não se entregam por completo, temendo desilusões.
Os outros, esses infelizes outros,
não dão tudo porque amanhã é outro dia,
não exageram, porque os outros, iguais aos outros,
poderão desaprovar, poderão proscrever.
Mas desenganem-se os outros, os contidos,
que quem descontroladamente se despe
sorri mais, sente mais, acerta mais.

13 comentários:

  1. Não diria melhor... quando o desejo nos invade, não há que haver contenção, nunca! É tudo ou nada, é matar e morrer, é sentir, é viver! Um 2016 sôfrego, é o que te desejo ;)))

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    1. Falava daquele "ar de foda", bem mais do que o resto. A forma de satisfazer prazeres que não deixa dúvidas

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    2. São poucos os que reconhecem um "ar de foda" sem réstia de ordinarice, assim à primeira vista... um dom concedido a raros ;)))

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    3. São poucos mas são os/as melhores.

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    4. Sim, uma espécie de irmandade, farejam-se ;))))
      Não sentes o odor?...

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    5. A minha imaginação não vai tão longe.
      O meu faro muito menos.

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  2. Há que viver com o desejo colado à pele.

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  3. O texto é irrepreensível.
    A definição é taxativa. Forte:
    "Os olhos não mentem, os gestos ainda menos. Revelamos o que somos e o que oferecemos, pela forma como nos atiramos ao que cobiçamos."
    Nós somos objetos de nossa própria gula. Somos reféns de nossos desejos!
    Belo blog que já sigo!

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    1. PDR as coisas fortes são as melhores mesmo não sendo irrepreensíveis.

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