Uma vez mais levanto-me sozinha.
Lentamente. Uma vez mais o lado direito da cama mantém-se intacto,
sem o cheiro forte da sua presença, sem os gestos largos do seu
corpo, sem a cadência do seu respirar. Uma vez mais acordo sem que
me acordem. Acordo sem acordar ninguém. Uma vez mais apenas imaginei
como seria deixar-me estar deste lado, quieta, apenas guardando o seu
sono. Apenas imaginei o seu sorriso. Apenas imaginei a noite e o
calor do corpo que me faria sentir o fresco dos lençóis. Uma vez
mais só o calor da água do banho que tomarei sozinha me fará
imaginar o banho a dois onde a água morna se torna mero adorno. A
vida que exigi roubou-me os momentos oferecidos e o lado direito da
cama manteve-se intacto. A tranquilidade que pedi apagou o
sobressalto da presença inesperada e o lado esquerdo do meu peito
manteve-se vazio.
- Oldmirror
São tantos os silêncios da fala
De sede
De saliva
De suor
Silêncios de silex no corpo do
silêncio
Silêncios de vento de mar e de torpor
De amor
Depois, há as jarras com rosas de
silêncio
Os gemidos nas camas
As ancas
O sabor
O silêncio que posto em cima do
silêncio usurpa do silêncio o seu magro labor.
- Maria Teresa Horta
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